quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Felicidade, os Números e as Metáforas 

Maria Adélia Aparecida de Souza 


O que a Geografia tem a dizer sobre a felicidade? Pergunta que para muitos é até ridícula. Nossa disciplina só lida com coisa séria! disseram-me muitos. Ledo engano! A Geografia tem muito o que dizer sobre a felicidade, extraordinário tema que, felizmente, hoje, é discutido em algumas rodas intelectuais. 

Neste início de século, tão prenhe de ameaças de toda ordem, sobretudo da guerra, não é sem razão que a discussão sobre a felicidade volta à baila. 

Imaginei que, desde quando a Geografia cuidava da descrição da paisagem natural, quando ela ainda era objeto de preocupação dos românticos, quando paisagem se confundia com o belo, com a natureza, ela estava ligada à felicidade. Hoje sabemos que a paisagem, pelo menos para a Geografia, é produto do trabalho humano, onde nem sempre, nem a beleza, nem felicidade, estão presentes. Importante destacar que as paisagens hoje estão completamente humanizadas, mesmo quando não tem, efetivamente, a presença humana. O sistema de telemática e a capacidade que alguns tem de monitorar a Terra, armazenando dados ou fazendo, inclusive, implodir torres imensas, transformou a paisagem em um poderoso produto também da insanidade humana. 

Falo das paisagens das periferias das grandes metrópoles, dos centros abandonados das cidades, da guerra, hoje também espetáculo televisivo. Claro que, em sua aparência, a felicidade aí não está, aquela felicidade objetiva, como diria Kant. A paisagem moderna, produto acabado do iluminismo, para quem o bem estar e, por conseguinte, a felicidade surgiria com o advento da conquista, pela humanidade, do progresso técnico e científico. Ah! Estes tempos tristes, como diria Hannah Arendt! Ah! Estes tempos infelizes, como diriam os pessimistas de hoje que ainda não ouviram falar no período popular da história. 

Mas, nestas paisagens tristes, é claro a felicidade também brota. A felicidade subjetiva, como também diria Kant, aquela que habita dentro de cada um e que, forçosamente, sempre se manifesta: com a chegada de um filho, com a alegria da festa, com a possibilidade do emprego, com a ajuda necessária e generosa, com o encontro, enfim. Eis uma forma de felicidade indestrutível, aquela do encontro, aquela da emoção. 

A Geografia, ciência que se coloca em pé, com rigor, identidade e maturidade no século XIX, sempre esteve assentada em uma imensa racionalidade. Então, como falar de emoção? Felizmente os geógrafos hoje estudam sistemas de objetos e sistemas de ação (emoção) indissociavelmente construídos. A racionalidade pura (a descrição) pouco a pouco abandona a Geografia. 

Durante todo este tempo, o objeto da geografia, a descrição das paisagens era (e tristemente ainda o é) feita como se ela brotasse, inodora, assexuada, expondo-se ao relato e a descrição, por vezes com uma pitadinha de ideologia, que a confunde, e de política, que certamente a qualifica. 

Mas a felicidade, então, também se transformava em algo racional, desprovida de emoção. Ela aderia a um discurso generalista, metafórico e matematizante, bem a gosto do final do século XIX e de todo o século XX. Esta visão certamente será derrotada pelos bons ventos que sopram diante do limite atingido pela racionalidade iluminista e pela necessidade de se substituir a quantidade pela qualidade, a razão pela emoção, na análise do processo social. Ou, cientificamente falando, a racionalidade econômica pela razão política, onde a emoção é o ingrediente mais precioso que carrega, potencialmente, a idéia de felicidade. Ser feliz é sentimento, é pura emoção. 

Mas como a Geografia Nova e as demais ciências sociais: a economia, a antropologia, a sociologia, a política e seus instrumentais metodológicos falam da felicidade objetiva? 

O texto criado para tanto tem sido metafórico e quantitativo, numérico. Não importa que eles não resistam a uma argumentação mais profunda. Afinal, quem discute hoje um argumento profundo? Todos são apresentados, pois pagos a preço de ouro, como verdade, pelas instituições internacionais. 

Vejamos alguns deles. Comecemos pelo mais atual e universalmente adotado: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Paremos para pensar sobre o que é desenvolvimento humano. É ter tudo aquilo que o Ocidente imaginou que a humanidade deveria ter? É aquilo que dá dignidade humana, não desenvolvimento? É ter todas as condições materiais de reprodução da vida: um abrigo, comida, saúde e educação? Ter luz elétrica, televisão, geladeira, sofás, computadores, ar condicionado, ''renda per capita'' elevada (outra matematização), automóvel? Quanto maior o índice de felicidade de seu povo. Eis uma medida da felicidade objetiva. 

Todos usam o IDH para reclamar ou usufruir de algo em busca da felicidade. Há países, objetivamente falando, que apresentam o IDH alto e que seu povo, também objetivamente falando, possa ser infeliz? Alguns países, além de sua felicidade ser medida por este índice, resolveram, nestes tempos de muda, matematizar ainda mais o mundo: fala-se em índices de risco. O risco Brasil, por exemplo, produzido por instituições financeiras e de assessoria internacional, quanto desassossego traz a alguns poucos brasileiros, aqueles que correm riscos, obviamente. 

Mas índices, a quem interessam? Àqueles que desejam a felicidade objetiva ou subjetiva? 

Como se a matematização não bastasse, metáforas são inventadas para reforçá-las. Nelas está implícita a ideia de felicidade objetiva, criada pelas condições requeridas por aqueles que dirigem o mundo. Vejamos as metáforas de hoje: desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, globalização. 

O que é a sustentabilidade? Manual de bom comportamento empresarial ou social? Como tê-la em uma sociedade injusta, corrompida e sob ameaça de toda ordem? O discurso do desenvolvimento sustentável, que subentende a felicidade, afinal é o que, além de mero discurso metafórico? E, hoje, eles se esgotam mais rapidamente do que ontem. Discursos se fazem e se desfazem, ao sabor da política. 

Como pode haver sustentabilidade em um mundo movido pela desigualdade, ou concorrência, competitividade e se preferirem, pela escassez. O que é que se sustenta, ou melhor, onde está a felicidade em mundo ameaçado por um desemprego crônico, hoje já assumido por todas as instâncias de negociação mundial, seja no Rio de Janeiro, em Washington ou em Davos e até mesmo em Porto Alegre! 

E o cinismo da segurança alimentar? Há que se reler a parábola da multiplicação dos pães, para entender sobre a fome! Em um mundo que dispõe de todos os meios tecnológicos e biotecnológicos para nutrir a humanidade, mas onde a fome crônica, estrutural e mesmo a episódica, cada vez mais ronda tantos, como usar tal conceito, a não ser quando o relacionamos ao mundo da produção ou do assistencialismo? Não há fome, portanto há felicidade, quando não há esmola. Quando se aprende a pescar. 

Metáforas e índices que dificultam a compreensão dos processos reais do mundo e a busca da felicidade. Metáforas são simplesmente metáforas, isto é, dizem respeito ao concretamente inexistente. 


Maria Adélia Aparecida de Souza é professora titular de Geografia Humana da Universidade de São Paulo (USP) e professora convidada da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Revisão RDS 
LISTA DE EXERCICIOS GEOGRAFIA 
2° BIMESTRE 
PROF. ANDRE GARDINI (9° ANOS) 

1. A agricultura introduzida no espaço tropical do Sudeste Asiático pelos europeus, que visa abastecer seus mercados com matérias- primas e alimentos produzidos à custa da exploração da monocultura e da mão de obra barata, denomina-se: 
a) itinerante. 
b) intensiva. 
c) rizicultura irrigada 
d) plantation. 

2. As plantations sempre apresentam: 
a) grandes importações de sementes e insumos. 
b) alta mecanização 
c) uso de capital estatal. 
d) grande uso de mão de obra e exportação da produção. 

3. O arroz é um dos mais importantes alimentos do sudeste da Ásia, porque: 
a) toda a produção mundial ocorre nessa área. 
b) sua produção é feita em terras coletivas, agregando a população. 
c) a produção é feita com tecnologia, em plantations. 
d) ocupa grande área e muita mão de obra. 

4. Alguns países do Oriente Médio faturam bilhões de dólares ao ano com as exportações de petróleo; sua industrialização, no entanto, continua baixa. Explique. 

5. Com base no texto abaixo assinale as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F): 
“O Iraque tem cerca de 115 bilhões de barris de petróleo em jazidas comprovadas – a segunda maior reserva do mundo. A Arábia Saudita tem reservas comprovadas de 265 bilhões de barris.” 
Fonte: Saeed Shah. Folha de S.Paulo, 16 mar. 2003. 
a) ( ) A imensa quantidade de reservas petrolíferas acumuladas nesses países explica o interesse geopolítico que a região do Golfo Pérsico desperta. 
b) ( ) Toda a movimentação militar e estratégica norte-americana no Golfo Pérsico leva em consideração a realidade descrita no texto. 
c) ( ) O petróleo ainda é a mola econômica do mundo e a região à qual pertencem os dois países citados no texto detém aproximadamente 65% das reservas mundiais. 

6. Leia a frase: 
“Se o Iraque produzisse rabanetes, em vez de petróleo, a quem ocorreria invadir esse país?” 
Eduardo Galeano, citado por Roberto Pompeu de Toledo. Canto de passarinho numa hora dessa? Revista Veja. São Paulo, 26 mar. 2003. 
a) A que invasão o autor se refere? 
b) Qual o motivo alegado pelo invasor para realizar essa violação da soberania nacional? 
c) Que outros motivos, não apontados pelo invasor, poderiam motivar a invasão do Iraque?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Muro em construção na favela Dona Marta (RJ)
A História do Brasil pode ser contada de vários modos e sob vários ângulos, mas para a maioria ela é a história da fome e da miséria. Um modo perverso de dividir o mundo em dois, produzindo um gigantesco apartheid (…). Uma parte ostensiva, rica, branca, educada, motorizada e dolarizada. Outra parte imensa na sombra, negra, analfabeta, dando duro todos os dias, comendo o pão que o diabo amassou (…). Dois mundos no mesmo país, na mesma cidade, muito próximos pela geografia e infinitamente distantes como experiência de humanidade. 

Herbert de Sousa (Betinho).
CATASTROIKA
Este é o novo documentário da equipe responsável por Dividocracia
retirado de: http://jaderresende.blogspot.com.br/

Chama-se Castastroika e faz um relato avassalador sobre o impacto da privatização massiva de bens materiais e serviços públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás.
Catastroika denuncia exemplos concretos na Rússia, Brasil, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, obviamente, na Grécia, em setores como os transportes, a água ou a energia. Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy.
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, repassaram emrepassam bens materiais a preço vil, alienaram e alienam riquezas do subssolo e “off-shore” com contrapartida ínfima e criminosamente elegeram os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável.
Sacrifica-se e sacrificaram a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika – FMI, BCE e CE), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate».
Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para acabar com a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia.
O objetivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos.
Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como está se vendo na Grécia, Espanha, Portugal, Itália e outros a tentativa e prática do total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, notadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão do tecido social e níveis de vida condignos.
Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre adividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro.
Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemônico omnipresente na mídia-de-mercado, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta pela democracia ou a barbárie neoliberal.